MARTIM CAVALCA E ANNUNCIATA MARIA MIGNOLI

Martim CAVALCA foi o primeiro filho de Paolo Biagio Cavalca e Leonilda Pesca a nascer em terras brasileiras, em Ribeirão do Porto Franco, município de Brusque – SC, no dia 09 de maio de 1880.

Quando seu pai soube da notícia de que novas Colônias estavam se criando nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, partiram na esperança de encontrar uma região com melhores perspectivas.

Tentaram primeiramente a Colônia de Porto Real, em Resende (RJ), onde residia a família Miglioli. Desta família nasceu no dia 22/03/1882, aquela que seria sua companheira por toda a vida ANNUNCIATA MARIA MIGNOLI, filha de Angelo Miglioli e Margherita Ballone.

Mais tarde MARTIM estabeleceu-se com os pais e irmãos, no município de Cachoeira Paulista (SP) e, por fim, em 1891 chegou àquela que seria o berço de toda uma geração dos Cavalca, Guaratinguetá (SP), no Vale do Rio Paraíba do Sul. Portanto quando MARTIM chegou à Colônia do Piagui, tinha 11 anos de idade.

Trabalhou no lote de terra número 47, de propriedade de seu pai até 1894, quando seu pai deixou as terras aos cuidados de seu irmão Antonio e foram trabalhar no "Núcleo Agrícola de Canas", na agricultura canavieira. No ano seguinte retornaram à Colônia do Piagui.

Após a morte de seu pai em 1911, MARTIM conheceu e casou-se com ANNUNCIATA MARIA MIGNOLI no dia 20 de novembro do mesmo ano.

O jovem casal trabalhava nas terras de Angelo (Angelim) Pedro Abissi, casado com a irmã caçula de MARTIM, Laura Cavalca. Com suas economias comprou um lote de terras, onde sua sogra ajudava nos serviços domésticos, enquanto o casal trabalhava na lavoura. Possuía plantações de subsistência, que cuidava nas horas que restavam no final do dia. Levantava-se às 2 horas da madrugada para fazer tijolos, antes de ir para o trabalho, e guardava-os para construir aquela que seria a sede da sua fazenda. Com muito trabalho e economias, tornou-se proprietário da Fazenda Santana, com 90 alqueires de terra, onde cultivava cana de açúcar e criava gado de leite.

Toda a safra de cana era transportada em carros de boi até a balança, que ficava às margens do rio Paraíba e dali partia em barcaças até o Engenho Central, de Lorena. O pagamento era intermediado pelo Banco Escada. MARTIM era também arrendatário das terras Porto do Meira, para plantio de cana de açúcar.

O leite era vendido a domicílio, pelos filhos mais velhos, que após a primeira ordenha do dia, partiam a cavalo com uma bolsa que levava mais ou menos 15 litros de leite no arreio. Antes de sair, tomavam uma xícara de café. Quando voltavam eram servidos de um pedaço de polenta, um bife de carne seca coberto com um ovo frito e meio litro de vinho importado.

Como sabia ler e escrever o português e o italiano, MARTIM importava junto com o vinho, os jornais da Itália. De 15 em 15 dias reunia os outros patriarcas da Colônia, como os Damasio, os Barbetta, etc, para escutarem suas leituras do exterior. Tudo era festa regada a muito vinho italiano, que terminavam com jogo de truco. As barricas de vinho, depois de esvaziadas eram serradas ao meio e serviam como cocho para o gado. Também arrogava para si, a assinatura dos familiares e de seus colonos amigos.

As filhas cuidavam da casa, da horta e pequenas criações.

ANGELO

Seu primeiro filho, Angelo, faleceu com uma semana de vida, mas isso não os abatera, pois ainda tiveram mais 17 filhos: Paulo, Angelina, Antonio, José, Margarida, dois filhos com o nome de Geraldo, Maria, Pedro, Francisco, João, Luiz, Benedito, Aurora, Roza, Leonor e Leonor Aparecida.

PAULO

Casou-se com Ana Maria Brezolin. Deste matrimônio nasceram os filhos: Sinésio, Nair, Paulo, Eduardo, Terezinha - falecida aos 3 meses e outra filha com o nome de Terezinha. Sempre trabalhou nas terras de seu pai e quando herdou sua parte, comprou mais 15 alqueires dos irmãos, totalizando 20 alqueires. Suas terras compreendiam a foz do rio Piagui, no rio Paraíba, até o atual Village Santana.

ANGELINA

Sua primeira filha casou-se com o barbeiro italiano, Humberto Barrelli, natural de Sapri, uma comuna italiana da região da Campania, província de Salerno. Humberto Barrelli veio para o Brasil com 11 anos, acompanhando seu tio, indo morar em Cruzeiro. Angelina deu à luz a Osvaldo, que nasceu na sede da Fazenda Santana. O parto difícil necessitou da ajuda do Dr. Benedito Meirelles, para a utilização de fórceps. Em conseqüência das complicações deste parto, Angelina faleceu antes de completar 30 anos. MARTIM e ANNUNCIATA cuidaram do neto e depois da morte dos dois, até a idade de 12 anos foi cuidado pela sua filha Cida. Com o segundo casamento de Humberto, Osvaldo foi para cunha morar com o pai e a madrasta.

ANTONIO

Na véspera do Natal de 1902, nasceu seu filho Antonio, que se casou com a filha de imigrantes espanhóis Maria Molina. Possuía um armazém na rua Desta união nasceram: José, Martim, Orlando, Alzira, Humberto, Mafalda, Elza e Darcy. Foi registrado como Antonio Cavalca Sobrinho, em homenagem ao tio Antonio. O progresso do oeste paulista seduziu seus filhos Antonio e Geraldo que partiram para conhecer a região de Marília. Naquela época demorava 16 horas de viagem de carro até lá. Mas, o fascínio pelo lugar foi tanto que compraram um bar na estação ferroviária; bar este que nunca fechou suas portas durante dez anos. A partir daí os negócios prosperaram e tornaram-se fornecedores de bebida para toda a região. Antonio morava num sobrado na Rua Amazonas. Quando seu irmão Pedro foi visitá-lo, chegou por volta das 10 horas da noite e mandou seu filho Afonso (com 7 anos), bater na porta e pedir janta. Maria Molina atendeu a porta, de avental, e disse que já era muito tarde para dar comida e despachou o moleque. Pedro apareceu e reclamou com a cunhada. Depois de reconhecer o cunhado, foi só alegria! Chamou todos os parentes e festejaram a noite toda.

GERALDO

Depois nasceu Geraldo, que faleceu com 2 meses de vida.

JOSÉ

O José Cavalca Primo foi assim registrado porque já existia outro sobrinho José Cavalca, o Pim. Chamado de Gepe, uma abreviatura de Giuseppe, em italiano, era muito tranqüilo e sempre dizia que o que era dele viria em suas mãos, sem esforço. Brincava com os irmãos na hora de limpar o canavial apostando que a sua “rua de cana” seria a última a ficar limpa. Casou-se com Virgínia Roza Brezolin e tiveram os filhos Lucinda, Anésia - apelidada por Zica, Sérgio - falecido com uma semana de vida, outro filho chamado Sérgio e Celso. Possuía um bar na Praça São Benedito, que certa vez foi assaltado. Percebeu que haviam roubado uns cinco pacotes de fósforo. Prenderam o ladrão na Estação Ferroviária, com 15 pacotes de fósforo. Quando a polícia devolveu-lhe a mercadoria José exclamou: “eu não digo que o que é meu está reservado? Perdi cinco pacotes e recebi quinze.

MARGARIDA

Casou-se com José Antônio Rossato e tiveram os filhos João, Julieta, Ernesto, Benedito - falecido com 15 meses, Arlindo, Maria, Virgínia - falecida aos 8 meses, Mário e Judith - falecida com 1 mês de vida, Renato, Beatriz, Helena e Paulo. Margarida e José também foram para Marília com os irmãos e lá compraram uma fazenda de café. Logo após esta aquisição, o café teve uma grande valorização, prosperaram com rapidez, adquirindo novas propriedades e mais uma fazenda para cafeicultura. Numa viagem à Vila Velha – PR, num acidente, ela perdeu a vida, junto seus filhos Mário e Renato.

GERALDO

MARTIM teve dois filhos com o nome de Geraldo. O segundo Geraldo foi registrado como Geraldo Cavalca Primo, porque já era nascido seu sobrinho Geraldo, filho de seu irmão Joanim. Casou-se com Judith Caetano de Abreu e tiveram quatro filhas: Ivone, Ivanira, Eunice e Marlene. Começou sua vida com uma venda no bairro do Carmo, em Piquete, terra natal de sua esposa. Sua trajetória é paralela a de seu irmão Antonio. Certo dia a família do Pedro foi visitá-los e chegando lá pediram informação para um policial. Este quando soube da procura pelos Cavalca, chamou o Pedro de tio. Pedro assustado respondeu que não acreditava que ele fosse seu sobrinho porque “ele (o policial) era baiano e ele (Pedro) italiano.” O policial respondeu que era genro do Geraldo Cavalca e os levaria até lá.

MARIA

A filha Maria casou-se com o calabrês Antônio Zappa e tiveram os filhos Yolanda, Orlando e Adalberto. Antônio Zappa trabalhava como jornaleiro, entregando em domicílios os jornais trazidos pelo trem, do Rio e São Paulo. Moravam na Rua Comendador Rodrigues Alves, mas, quando MARTIM faleceu, Maria e o marido foram morar com sua mãe e os irmãos solteiros no sobrado da Bela Vista. Depois venderam a casa para Cida e Júlio e seguiram também para Marília, onde participaram da sociedade do comércio de bebidas.

PEDRO

Pedro era o filho do meio. Foi registrado como Pedro Cavalca Sobrinho, em homenagem ao tio Pedro (Pirim). Casou-se com a professora Maria Luíza Barboza e tiveram os filhos Maria Helena, Pedro Alberto, Maria Lúcia e José Afonso. Pedro sempre trabalhou nas terras de seu pai e adquiriu parte delas com seu esforço e dedicação. Plantava cana de açúcar, laranja e criava gado leiteiro. Em 1962 vendeu sua propriedade e comprou para os filhos outras terras no bairro da Rocinha. Era amigo e conselheiro dos irmãos e primos. Sua esposa Luíza era grande conhecedora da história da Família Cavalca e colaborou muito no resgate destas memórias. Pedro alugou uma chácara no bairro Santa Rita, de propriedade dos Seabras e colocou a família do irmão João para cuidar.

FRANCSICO

Francisco Cavalca Primo foi assim registrado, porque MARTIM já tinha um sobrinho com o mesmo nome, filho do seu irmão Luigi. Depois de trabalhar na Fazenda Santana, Chico, como era chamado, trabalhou como gerente da casa lotérica “A Favorita”, em Itajubá – MG. Também foi cambista do jogo do bicho em Taubaté – SP. Casou-se com Alzira Araújo, natural de Varginha - MG e tiveram os filhos Yolanda e Renato e aí passou a trabalhar como “chofeur” de praça. Levou muitos Cavalca em viagens por este Brasil afora. Também era motorista do Sr. Samuel Zaltsman, no seu comércio ambulante pelas fazendas da época. Com a prosperidade dos irmãos Antonio e Geraldo, em dezembro de 1955, foram convidados a participar na sociedade da “Distribuidora de Bebidas Marília Ltda.”. Comprou a parte de seu sobrinho Martim, filho do seu irmão Antonio e passou a transportar cerveja de Agudos – SP e vinho de Bento Gonçalves – RS até a sua aposentadoria.

JOÃO

Seu filho João Cavalca Primo, apelidado por Nico, foi assim registrado porque seu irmão Luigi já tinha um filho com o mesmo nome, Nico casou-se com uma das ajudantes de sua mãe, Angelina Marçola. João era limitado mentalmente, mas um grande trabalhador braçal, capaz de picar cana, manualmente, para alimentar até 50 cabeças de gado, num só dia. Além disso, vendia salgados que sua mulher fazia. Faleceu aos 24 anos. Sua esposa Angelina foi junto com seu filho Antonio Carlos para Piquete, morar com o seu cunhado Geraldo, depois morou com a cunhada Maria em Marília. Ao retornar do oeste paulista e com a sua parte na herança, construiu uma casa no bairro da Nova Guará, e trabalhou por mais de 20 anos como cozinheira na casa do Voca. João foi pai de dois filhos: Ângelo, falecido aos 8 meses e Antonio Carlos, o famoso Gordo Cavalca, primeiro “Rei Momo” da cidade de Guaratinguetá. Figura folclórica da cidade, “o Gordo Cavalca” gostava de corresponder-se com as namoradas por fotografias. Ganhava várias fotos no Studio Imoto e divertia-se com as respostas das cartas. Dedicava músicas nos parques para as moças e pagava para que tocassem as suas preferidas por uma noite inteira. Vendia doces em domicílio, feitos pela doceira Maria Quitéria.

LUIZ

O filho Luiz casou-se com Maria Francisca Caetano, apelidada por Santa, irmã de outra nora, Judith Caetano de Abreu, casada com seu filho Geraldo. Tiveram os filhos Luiz Roberto, Martins Walter, Edna Maria, Vera Lúcia e Antônio César, apelidado por Gastão. Assim como os outros irmãos, Luiz sempre trabalhou nas terras de seu pai e também adquiriu parte delas junto com os irmãos Pedro e Paulo. Plantava laranja e criava gado leiteiro. Em 19 arrendou suas terras para o irmão Pedro e em vendeu-as para Antônio Gilberto Filippo Fernandes. Trabalhou no Mercado Municipal numa cooperativa de produtores de abóbora. Trabalhou também na Cooperativa de Laticínios de Guartinguetá.

BENEDITO

O filho caçula, Benedito Cavalca, o Ditinho, casou-se com América Izabel Carvalho e tiveram uma única filha Anunciata Aparecida. Durante um tempo era cambista do jogo do bicho na Colônia do Piagui. Por um tempo morou e trabalhou nas terras dos irmãos Pedro e Luiz, onde nasceu sua filha. Depois foi gerente de hotel em São José do Barreiro, trabalhou num restaurante em Queluz e teve uma loja de frutas, em sociedade com seu irmão Luiz, na rua Dr. Morais Filho, em frente à Casa Brasileira. Desfeita a sociedade, comprou uma banca no Mercado Municipal, à qual, após se aposentar, passou ao filho de seu primo Juca Cavalca.

AURORA

Sua filha Aurora casou-se com Aramis Evangelista Xavier e tiveram três filhas: Helenita, Sônia e Alcione. Aramis era mecânico de refrigeração e trabalhava para a SERVIX Engenharia. Após seu casamento foi morar em São Paulo onde reside até hoje.

ROSA

Sua filha Rosinha conheceu Gilberto Lauria na casa da sua tia Leonilda (Nerdina). Gilberto desde jovem foi para São Paulo, onde trabalhava como pintor, na Olivetti e depois como taxista, até se aposentar. Rosa e Gilberto tiveram três filhos: Elenice, Gilberto e Elizabete.

LEONOR

Em setembro de 1925, MARTIM E ANNUNCIATA tiveram uma filha, Leonor, que faleceu aos 9 meses de idade.

LEONOR APARECIDA

Sua filha caçula, Leonor Aparecida, tratada carinhosamente por todos como CIDA, casou-se com o enfermeiro Júlio Cesar Monteiro dos Santos e tiveram 4 filhos: Júlio Cesar, Célia Regina, Paulo César e Cláudio César. Júlio trabalhava como enfermeiro junto do Dr. Sigaud e também foi proprietário da Farmácia Central, na Rua Comendador Rodrigues Alves, onde também residia. Homem de grande cultura, Júlio escrevia como colaborador do jornal graratinguetaense “O Garça”.

Após a morte do marido, ANNUNCIATA arrendou a Fazenda Santana, por dez anos, aos filhos Pedro e Luiz.

Dois anos depois construiu um sobrado na Praça Martim Afonso - Bela Vista, aonde veio morar com as filhas Roza, Aurora, Cida e Ditinho, todos solteiros na época. Quando ANNUNCIATA morreu em 25/10/1944, cada filho herdou cinco alqueires da Fazenda Santana. Entre 1944 e 1947, Luiz, Pedro e Paulo foram comprando as partes dos irmãos. No dia 25/03/1947 as terras de MARTIM CAVALCA foram desmembradas entre os três filhos cabendo 35 alqueires para o Luiz, 35 alqueires para o Pedro e 20 alqueires para o Paulo.