PAOLO BIAGIO CAVALCA
A MAIOR DESCENDÊNCIA ITALIANA EM GUARATINGUETÁ
No dia 03/02/1840, nascia
na Região da Lombardia, província de Mantova, na Comuna di Bagnolo San Vito, o
menino PAOLO Cavalca, filho de
Luigi Cavalca e Laura Cabrini.
Dentro da rígida tradição
católica, foi batizado no mesmo dia de seu nascimento na Paróquia de San Vito
Modesto, recebendo na pia batismal o nome de PAOLO
Biagio.
Conheceu LEONILDA Pesca, filha dos também lavradores
Antonio Pesca e Annunciata Grassi, nascida no dia 07/06/1846, na Comuna di
Brede di San Benedetto Po, na província de Mantova, região da Lombardia.
PAOLO e LEONILDA casaram-se em
25/11/1862, na igreja de Santa Margherita V.M., na presença do sacerdote Don
Amos Marchesi e da testemunha Rossi Giovanni.
De família humilde, pobre
como todo lavrador de sua época, este italiano não poderia imaginar que sua
descendência seria tão grande quanto à distância que o separava das terras de
seu destino:- o Brasil. A vida difícil, não intimidava aquele italiano de
estatura mediana, mas viril ao trabalho e ansioso por dias melhores. Seus olhos
claros enxergavam que a sua Itália não lhe favorecia e sua vida estava cada vez
mais difícil de enfrentar, sem perspectiva nenhuma aos seus filhos: Antonio
(20/02/1865), Josepha Anunciata Luigia (05/05/1867), Gaetano (25/04/1871) e
Dina Restilla (27/02/1874).
Além da comuna de Bagnolo
San Vito, a região da Média Planície Mantovana é formada também pelas comunas
de Castellucchio, Curtatone,
Gazoldo degli Ippoliti, Mantova, Rodigo
e Virgilio. A palavra "bagnolo" deriva
do latim "balneum" e significa pântano, charco, brejo, atoleiro,
lamaçal, indicando que a cidade foi construída sobre a várzea do rio Po. A
origem desta localidade é muito antiga e remonta sua ocupação por parte da
população de estirpe etrusca, para aproximadamente 500 a.C. e dos gauleses em
torno de 153 a.C., onde o início do povoado se deu numa parte mais alta, ao
sul, cerca de 20 m acima do nível do mar, circundado em grande parte pelas
águas do rio Mincio. Sendo assim, em 10 de outubro de 1868, devido à assustadora
inundação do rio Po e de seus afluentes, muitos banholenses foram obrigados a
se mudarem para o município vizinho de Roncoferraro. Junto com eles a família
de PAOLO e LEONILDA se estabeleceu nestas terras até que em 12 de fevereiro de
1876, nasceu ali seu quarto filho Luigi Giovanni.
Como todo lavrador de sua
época reclamava ao Rei Victorio Emanuel, que eles, apesar de plantarem o trigo
e a uva, não eram dignos de comerem o pão e beberem o vinho. Para um italiano,
isto era uma afronta; ter de se privar de sua mais tradicional e básica
alimentação.
Os planos para a
imigração ao Brasil começaram a serem traçados, em 1878 quando Luigi contava
com dois anos de idade. PAOLO
resolveu deixar para trás a sua terra natal juntamente com sua mulher e os
filhos. Não sabemos se Gaetano embarcou ou chegou vivo ao Brasil, pois não
temos a certidão de desembarque dos Cavalca e nada consta da sua descendência
aqui.
Formalizou o pedido à Sua
Majestade, o Rei da Itália, para imigrar e através de um passaporte recebeu o
consentimento do Ministro das Relações Exteriores, o qual advertia de que
qualquer infortúnio causado nessa empreitada não o seria ressarcido de nada.
Sem nem mesmo ter a garantia do retorno à Pátria, à segurança da travessia do
Atlântico ou o consolo por doenças ou mortes dos seus familiares, os Cavalca
embarcaram rumo ao Novo Mundo.
Nessa aventura, além de PAOLO e LEONILDA, traziam consigo os
filhos:- Antônio - o primogênito, Anunciata - "Nunciadim", Dina e
Luiggi - "Luizim".
Embarcaram no Porto de
Gênova com destino às terras da Colônia de Porto Príncipe, no Vale do Rio
Itajaí,
Subiram o rio em
barcaças, até o assentamento das terras pela Coroa Brasileira. Contam que os
primeiros imigrantes que ali chegaram, escolheram o
local para ancorarem suas balsas e canoas na desembocadura do ribeirão Porto
Franco, afluente do Itajahy-Mirim. Ao saírem para explorar e conhecer a região
que tomariam posse definitiva, neste meio tempo ocorreu um temporal com chuvas
fortes que resultou numa enchente no rio Itajahy-Mirim. Ao voltarem,
preocupados com suas canoas e balsas, seus únicos meios de transporte, tal foi
a surpresa ao observarem que as mesmas giravam sobre as águas da enchente, no
mesmo local onde estavam ancoradas. Desde então, os imigrantes passaram a
denominar o ancoradouro de "Porto Franco", Porto Seguro, passando a
ser a denominação do seu povoado e depois Distrito.
Neste primeiro contato
com o Brasil, receberam a amizade e o apoio de outros colonos europeus. Na
pequena gleba de terra que lhes cabia o cultivo, via suas tradições se fixarem
à região as quais perduram até os nossos dias.
Ali nasceram mais quatro
filhos deste primeiro matrimônio:- Martinho - "Martim" (1879), Maria
Virgínia - "Marim" (1882), João Francisco - "Joanim" (1884)
e Laura (1886).
As coisas começaram a mudar
quando Sua Alteza Imperial Dona Tereza Cristina, protegia mais os colonos
alemães, fazendo com que os italianos se sentissem hostilizados. Além disso, os
freqüentes ataques sofridos pelos indígenas da região, chamados bugres,
começaram a trazer aborrecimentos.
Com a queda da Monarquia,
veio a notícia de que novas Colônias estavam se criando nos estados do Rio de
Janeiro e São Paulo.
Resolveu então partir
para uma região mais próspera com melhores perspectivas de dar uma vida digna
aos seus familiares. Ficou para traz a filha mais velha Anunciata com o marido,
agora mãe de mais dois filhos:- Leonilda (1889) e Sperandio (1891).
Fizeram o caminho inverso
da chegada. Tentaram primeiramente a Colônia de Porto Real, em Resende (RJ).
Nesta época também, PAOLO ficaria de luto pela morte de sua esposa LEONILDA
(21/06/1889), ocorrido na Estação da Divisa do Estado do Rio e Janeiro. Contam
que colocou o corpo num carroção e madeira, juntou os filhos e foi sepultá-la.
Na volta, com as crianças chorando, prometeu que logo arrumaria outra “mamma”
para cuidar deles.
Mais, tarde PAOLO
estabeleceu-se no município de Cachoeira Paulista (SP) e em 1891 foi trabalhar
no "Núcleo Agrícola de Canas", na plantação de cana de açúcar. No
mesmo local os italianos deram início à instalação da olaria de Canas, numa
época em que os tijolos eram desconhecidos na região. O nome "Canas"
teve origem na monocultura canavieira, cuja produção propiciava o pagamento das
terras da colônia ao governo da província. A monocultura do núcleo de Canas a
também abastecia o Engenho Central, em Lorena, pertencente à Sucrerie
Brasilliene, na produção de açúcar.
Em Canas, município de
Lorena – SP, PAOLO casou-se com Angela ANGELA MARIA GIROLDI (15/08/1891), viúva de Bernardo Costa que, segundo o Museu e Arquivo
Histórico do Vale do Itajaí-Mirim - SC, era proprietário do lote 50 na Colônia
de Águas Negras, conforme registrado no verso da pag.
08, da pasta 07, do livro da administração Carvalho Borges, numa medição
realizada em maio/1878.
ANGELA
MARIA GIROLDI
teve com Bernardo Costa seu primogênito Primo Bernardo Costa (1883). Bernardo
Costa também adotou a filha natural de Ângela, chamada Mathilde (1885).
Mathilde era filha de Augusto Klapoth, imigrante alemão e residente em Brusque
- SC.
A família GIROLDI era
natural de Offanengo (Fanénch in dialetto cremasco), Comune di Salvirola, Provincia di Cremona,
Regione della Lombardia e embarcou no porto de Genova em 01/02/1877, no vapor
Sud América. Aportaram no Rio de Janeiro em 02/03/1877 Carlo Giroldi (41 anos),
Angela ANGELA MARIA GIROLDI (11 anos), Giovanni
Battista (6 anos) e Rosa Giroldi (9 meses).
Corria o ano de 1891 e
por fim chegou àquela que seria o berço de toda uma geração dos Cavalca,
Guaratinguetá (SP), no Vale do Rio Paraíba do Sul.
Pouca era a bagagem, mas
grande a vontade de trabalhar. Abrigados por uma noite na Hospedaria dos
Colonos, seguiram logo cedo para as terras da Colônia do Piagui.
Somavam-se à família Cavalca,
os Sacchet e os Palandi.
Enfim no dia 4 de outubro
de 1892 entraram na hospedaria dos imigrantes em Guaratinguetá e no dia 8 de
outubro de 1892 estabeleceu-se no Núcleo
da Colônia do Piaguhy, como lavrador, PAOLO registrou sua segunda esposa
ANGELA MARIA GIROLDI, os filhos do primeiro casamento João Francisco (Joanin) e Laura, os enteados Mathilde (Tile) e Bernardo e o
sogro Carlo Giuseppe Giroldi, como seus dependentes e tomou posse do lote 47
(com casa), cuja data para entrega provisória do título de propriedade foi
marcada para 13 de janeiro de 1893. Seu filho Antônio tomou posse do lote
vizinho de número 46. Mais tarde, seus filhos Luigi e João tentaram a mesma
sorte, mas por serem menores de idade não conseguiram a posse de terra.
Em 1894, PAOLO voltou a
trabalhar no "Núcleo Agrícola de Canas".
Os registros desta época
mostram também que PAOLO e ANGELA MARIA GIROLDI tiveram ainda mais seis
filhos:- Carlos - "Carlim" (1895), Pedro - "Pirim" (1897),
as gêmeas Anastácia e Leonilda - "Nerdina" (1899), Izabel (1901) e
Luzia (1904).
PAOLO CAVALCA era um dos
colonos mais antigos do Piaguí. Sua participação nas decisões da colônia era
maciça e de grande peso. Tornava ativa a participação política do colono do
Piagui, juntamente com seu filho Antonio e tantos outros patrícios, sem
precisar renunciar à sua cidadania italiana. Nada mais lógico para uma pessoa
que encontrou no Brasil, a esperança de um futuro melhor. Sua esperança também
comungada com a sua religiosidade tinha no catolicismo o esteio para momentos
de dificuldade e angústia. Tomados da necessidade de um maior alimento
espiritual, PAOLO, juntamente com os outros colonos, encabeçou a petição para a
construção de uma Capela no largo central da Colônia. Com uma caligrafia
rudimentar, mas de grande credibilidade, seguiu ao diretor do Núcleo dos
Colonos, o desejo de ver ali erguido o símbolo do único sentimento que trouxera
da Itália, sua fé.
E foi com esta fé que em
1906, conseguiu suportar um dos mais trágicos momentos de sua vida. Um acidente
matara seu enteado Bernardo, que ao transpor uma cerca, teve sua espingarda de
caça disparada e um tiro certeiro lhe tomara a vida. Era dia 5 de Dezembro.
O tempo passava e PAOLO
via seus filhos se casarem, os netos e bisnetos nascerem, os amigos e parentes
mais velhos partirem e a Colônia prosperar.
Talvez cansado e sem
estrutura para acompanhar o progresso que se fazia necessário, PAOLO veio para
a cidade morar com o neto "Pim".
No dia 21/08/1907 falecia
sua segunda esposa ANGELA MARIA GIROLDI.
PAOLO BIAGIO CAVALCA
permaneceu morando com seu neto até a sua morte, no dia 29 de Abril de 1911.
No “FOGLIO DI FAMIGLIA”, um cadastro familiar utilizado no séc. XIX,
para registrar as famílias e agregados que habitavam a mesma residência,
encontramos o assento de DOMENICO CAVALCA (15/04/1843), irmão de PAOLO.
DOMENICO CAVALCA era pai
de PIETRO LUIGI CAVALCA (24/04/1876), que era pai de ADELELMO CAVALCA
(09/05/1900).
Documentos do Arquivo
Nacional do rio de Janeiro mostram a entrada da família de GIULIO CAVALCA, com
25 anos de idade. Viajaram no Vapor Isabella (Capitão G. Villa ), que partiu de
Genova em 31.12.1877 e chegou ao Rio de Janeiro em 26.01.1878. GIULIO CAVALCA,
era natural de Padova; e trouxe consigo a esposa Melania, 21 anos e o filho
Alcide Cavalca, com 3 meses de idade.